Como todo escritor, tenho como
meu fiel escudeiro um cinzeiro. Nada muito especial. Ele esta velho, arranhado,
com cheiro de cigarros de anos e anos. Mas apesar do fardo pesado que ele
carrega, não tenho do que reclamar dos vários anos de lealdade.
Em cada conto, cada poema, cada
pensamento e musica, ele estava ao meu lado. Aparando as cinzas da minha alma.
Fazendo o seu papel misterioso e calado de coletor de restos carburados pela
solidão e falsas volúpias.
Nele, foi depositado muitas amarguras. No
entanto sorrisos de esperança e felicidade são recordados com saudade ao pensar
em troca-lo. Mas tudo tem um fim. É triste, mas são fatos da vida. O fim está
próximo, e quando menos esperamos “bumm” era uma vez.
É estranho pensar em se desfazer
de algo que fez parte de seu dia-a-dia por anos, mas a regra dita como acontece
o jogo. E essa regra é bem clara “começo, meio e fim”. Não adianta espernear,
chorar, e/ou culpar o universo por tamanha injustiça. Pois de regra geral,
sempre foi e sempre será assim.
O valor de tudo é dado todos os
dias. Mesmo nos dias difíceis. Já que em dias de sol julga-se que não damos o
devido valor a nada. Hora estamos leves e seguros de uma incerta certeza de
pura ilusão. Hora estamos acordados e tentamos estar anestesiados, para não se
deparar com o caos da realidade dos dias.
E agora olho para meu leal
escudeiro de anos e penso em questões que nem mesmo os sábios poderiam me
explicar. Minha mente acaba tornando-se um cenário de guerra de pensamentos. E
tudo isso por conta de um leal cinzeiro.