sábado, 23 de novembro de 2013

Uma carta para você




Paris, 21 de setembro de 1986


Querida Juliette,


Eu tentei dizer-lhe o quanto és importante, mas as palavras não saíram. Então usei versos harmônicos, mas na hora “H”, nada soou harmônico. Comparei-lhe com a as sete maravilhas do mundo, mas pareceu tão brega a comparação, que permiti que o silêncio vibrasse entre nós.
Eu não soube explicar a sua perfeição. Apesar de não existir perfeição, mas a simplicidade de seus atos lhe torna perfeita. (eis a contradição)

Um sorriso majestoso, em um dia cinzento; Um passo rodopiante enquanto o carro passa com o som alto; A forma como mexe os olhos, quando toma sorvete; A eletricidade que doce lhe causa; A segurança que passa com um só abraço; O tom da sua voz; A sua juba, após acordar; A forma como um afago (por mais simples que seja) lhe relaxa, mesmo depois de um duro dia de trabalho.

Lhe quero todas as manhãs, todas as tardes e noites, de verão a verão, até que o ciclo da vida nos leve com o vento. Não importa se de segunda à sexta, terei que levar e buscar o Pietro na escola, e se todas as terças e quintas a noite, eu tenha que me virar para buscar a pequena Sophie no ballet. Não me importo de ter um cachorro chamado Beethowen e uma gatinha chamada Mary.

Com você quero apenas gozar de bons ventos e lindos fins de tarde, em uma cabana a beira mar no Hawai, com nossos filhos e animais. Quero que amor não seja o único laço que nos une. Pois somos amigos, parceiros de batalha, marido e mulher. Quero poder reconquista-la todos os dias e ama-la todas as horas.

Com amor, Scot.


P.S.: Quando você estiver terminando de ler esta carta, olhe para o nosso jardin. Terminei  de pintar a cerca que você pediu. 



sábado, 16 de novembro de 2013

Por um pouco de sanidade e silêncio



Quanto ao meu amor, calo-me.
Calo-me para não criar esperanças,
Calo-me para não frustrar minhas poucas lembranças,
Calo-me para ouvir o que o vento tem a me dizer,
Calo-me, pois talvez assim eu possa te esquecer.

Quanto às dores, calo-me para não expor minhas mágoas,
Calo-me para que essa dor seja liberta por minhas lagrimas,
Calo-me para que suas fotos continuem guardadas no fundo da gaveta,
Calo-me então para buscar respostas no universo com minha luneta.

Quanto as lembranças, calo-me a todo instante.
Calo-me quando seu cheiro de doce com gordura saturada vem,
Calo-me quando escuto aquela musica que nos fazia tão bem,
Calo-me sobre tudo que vem de ti.


E assim permanecerei em silêncio para não admitir que sempre amarei você!


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Son parfum



"E invadiu as narinas e a pele do meu rosto, esse cheiro que só os teus poros exalam. E me roubou um arrepio do corpo e uma vontade intensa de ter um longo abraço, daqueles que roubam o coração. E sem querer meu pensamento desvia de sua serenidade e rouba um beijo desses teus lábios que ainda sinto nos meus em alguns sonhos que teimam em me perturbar durante a noite. E quando neles vejo seus olhos, perco toda forma de sanidade que ainda teima em permanecer. Mas por fim eu me perco nessa tua pele que vibra emoções e que talvez ainda sinta amor." 
(Priscila Coelho)

Devaneio sujo de tinta



 "E mais uma noite se vai, repleta de vazios e esperanças frustradas"

Ao seu lado está alguém que talvez nem te mereça, alguém que não te valoriza nem como pessoa e nem como mulher. Eu sei que não me cabe julgar ninguém. Afinal, quem sou eu nessa história? Um amigo, um conhecido ou alguém que o tempo levará como poeira ao vento?

Devo admitir que a cada dia que passa, tenho mais convicção de que no final dessa historia nós vamos seguir caminhos opostos, como você mesma falou. Talvez eu siga meu sonho californiano e você vá para algum lugar no mundo onde você possa se isolar em seu universo paralelo.

Varias coisas que foram ditas, foram erros. E se desculpar não fará voltar o tempo. Mas além de palavras ditas, existem as omitidas, e as atitudes infantis que deixei passar para não te magoar.

Agora me pergunto se vale mesmo a pena segui adiante com esse louco delírio inconstante. Pois o tempo não espera por ninguém, os rios sempre evaporaram e as ondas sempre quebram. Por algum tempo achei que em você eu tinha encontrado minha paz, um ponto de equilíbrio em meio ao meu rotineiro caos. Mas nada passou de um mero devaneio sujo de tinta, assim como toda história mal escrita.



sábado, 12 de outubro de 2013

Volúpia parisiense



Se eu fechar os olhos, consigo lembrar perfeitamente daquela manhã de domingo. Eu não dormir, passei a noite toda admirando tamanha perfeição a minha frente. E gradativamente o dia ia se fazendo presente. A Luz entrava pelas brechas da cortina improvisada, e iluminava aquela macia pele alva. Em tons de escuro, via a perfeição em curvas, como se fosse uma pintura renascentista.

Suas mãos seguravam a minha mão esquerda e em alguns momentos recebia leves apertos. Creio que o sonho estava bom, pois seu semblante emana um sorriso mágico. Seus cabelos castanhos escuros levemente ondulados voam suave com o vento do ventilador.

Seu cheiro exalava em todo o quarto. Um cheiro de bosque na primavera, onde eu conseguia imaginar as borboletas e pássaros no campo, uma cerejeira centenária com um píneo amarrado logo há baixo de seu galho mais forte. Seus pés se entrelaçavam aos meus, seu corpo colava-se ao meu.

Algumas horas se passaram e eu continuei ali apenas aproveitando cada instante, olhando atentamente cada gesto do corpo daquela fantástica obra de arte. Até ela abrir os olhos, e mostrar-me o quão o castanho dos seus olhos escuros era claro.  Seus longos cílios curvos davam um charme a mais ao seu olhar.

Ela estava sem maquiagem, com o semblante de sono e cabelos bagunçados. Mas nada chegaria aos pés de tamanha beleza. Um olhar puro e sedutor e sua voz suave quebrando o silêncio.

-Que horas são essas? – Perguntou ela
-Eu não faço ideia, mas sei que o sol está brilhando lá fora. – Respondi a ela

Então ela sorriu e eu disse que ela poderia dormir mais um pouco enquanto preparava algo para comermos.

E assim aconteceu. Fui para a cozinha e preparei o que dava para preparar. Não foi nada muito romântico e/ou inesquecível. Era algo simples. Se não me falha a memória, eram torradas bronzeadas com geleia de amora e suco de uma fruta típica da cidade onde estávamos. Servi o desjejum na cama com medo de não agrada-la, mas ela não se importou e comeu sem falar muito. No final ela disse que estava muito bom e agradeceu.

Passamos o dia conversando e sorrindo. E juro que aquele dia estava tão perfeito que eu não queria que terminasse. Mas era inevitável do fim chegar.
Quando o relógio acusou 19:20, ela disse que teria que ir. Pois morava muito longe de onde estávamos.  Por mais que eu quisesse que ela ficasse, não insisti.

Acompanhei-a até o ponto de ônibus e ficamos conversando coisas aleatórias, e várias vezes o silencio se fez presente naquele momento. Parecia que nem ela e nem eu queria que aquele momento acabasse. Mas mesmo assim nenhum de nós falou nada.
Quando o ônibus que ela pegaria se aproximou, eu a abracei forte, e segurei suas mãos. E baixinho sussurrei em seu ouvido.


-Obrigado pelo dia fantástico!
-Eu é que agradeço. A propósito, eu moro no em Pigalle, todo mundo me conhece lá. Pergunte por Colombina e rápido me encontrará. Será ótimo ter mais dias como esse em minha vida. – Ela retrucou.
- Sim, procurarei. Será uma honra dividir mais dias perfeitos ao seu lado.

E assim sigo meus dias, com lembranças de uma volúpia vivida em Paris. Estranho seria ir a Paris e não viver uma grande paixão.





quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Pensamentos para o catador de cinzas



Como todo escritor, tenho como meu fiel escudeiro um cinzeiro. Nada muito especial. Ele esta velho, arranhado, com cheiro de cigarros de anos e anos. Mas apesar do fardo pesado que ele carrega, não tenho do que reclamar dos vários anos de lealdade.

Em cada conto, cada poema, cada pensamento e musica, ele estava ao meu lado. Aparando as cinzas da minha alma. Fazendo o seu papel misterioso e calado de coletor de restos carburados pela solidão e falsas volúpias.

 Nele, foi depositado muitas amarguras. No entanto sorrisos de esperança e felicidade são recordados com saudade ao pensar em troca-lo. Mas tudo tem um fim. É triste, mas são fatos da vida. O fim está próximo, e quando menos esperamos “bumm” era uma vez.

É estranho pensar em se desfazer de algo que fez parte de seu dia-a-dia por anos, mas a regra dita como acontece o jogo. E essa regra é bem clara “começo, meio e fim”. Não adianta espernear, chorar, e/ou culpar o universo por tamanha injustiça. Pois de regra geral, sempre foi e sempre será assim.

O valor de tudo é dado todos os dias. Mesmo nos dias difíceis. Já que em dias de sol julga-se que não damos o devido valor a nada. Hora estamos leves e seguros de uma incerta certeza de pura ilusão. Hora estamos acordados e tentamos estar anestesiados, para não se deparar com o caos da realidade dos dias.

E agora olho para meu leal escudeiro de anos e penso em questões que nem mesmo os sábios poderiam me explicar. Minha mente acaba tornando-se um cenário de guerra de pensamentos. E tudo isso por conta de um leal cinzeiro. 




sábado, 13 de abril de 2013

Respire fundo, suba em silencio e controle a saudade




Com ela, escrevi os melhores poemas, cantarolei as melhores canções, “vibeei” as melhores vibes. E hoje quando ia ver o por do sol no nosso lugar de paz, ao passar pela escada cujo fizemos o 'poeminha do mijo no degrau”, percebi que nenhum por do sol é são especial quando parte de você não esta por perto. Amigos à distância, é a mesma coisa que morrer dolorosamente em silencio.

Nada fará/faria eu, Pierrot, acostumado a te ter por perto, ter que aceitar toda essa distância insuportavelmente dolorosa. Volte oh Colombina para os braços que quem lhe tem tanto apreço e lhe quer tão bem. Reduza esse longo sofrimento de 2970km para alguns poucos centímetros. Fique perto o suficiente para eu pegar em sua mão e nunca mais soltar.

Do tradicional poeminha do mijo no degrau (“Respira fundo e sobe, sobe, sobe, degrau, mijo, sobe, mijo, degrau, mijo, sobe, sobe, mijo, mijo, mijo”) adaptado a saudade que sinto..

"Respira fundo e sobe,
Sobe, sobe, em silencio,
Degrau, mijo, saudade,
Sobe, mijo, degrau, passos solitários,
Mijo, saudade, sobe,
Mijo, mijo, saudade, mijo."